Perturbações do Comportamento Alimentar
A prática da psiquiatria tem as suas particularidades mas a sensibilidade para cedo identificar as anomalias do comportamento alimentar pode ser uma das maiores ajudas que podemos dar aos doentes.
Um dos grandes problemas das pessoas que nos procuram é sentirem que não são compreendidas por quem as rodeia, os familiares, os amigos, os colegas de trabalho. Na sociedade em geral, ainda existe um enorme preconceito no que se refere às doenças do foro mental. Acontece que com a problemática do comportamento alimentar ainda é mais dificil que seja aceite que se trata de patologia psiquiátrica. A alimentação faz parte da vida e precisamos de conseguir uma relação saudável com as escolhas alimentares que fazemos. A identidade e o reconhecimento de quem somos, acontece numa dinâmica em que cada um tem o seu próprio percurso independentemente das diferenças culturais, de género, e outras que poderão influenciar o percurso clínico. Desde uma idade jovem passamos a ter consciência do controlo que pode ser experimentado no que se refere aos efeitos da alimentação na morfologia do corpo. Em pessoas mais vulneráveis podem surgir as patologias do comportamento alimentar que causam bastante sofrimento, instalando-se na vida de uma pessoa, muitas vezes ainda jovem, e de modo insidioso sem que o próprio consiga reconhecer a gravidade ou mesmo a necessidade de tratamento.
As patologias do comportamento alimentar são um bom exemplo da importância de trabalhar em equipa, o psiquiatra, o psicólogo, o médico internista, a nutricionista, a enfermeira e a terapeuta ocupacional. Cada uma das situações clínicas é que nos ajuda a definir quais os profissionais que em determinada momento devem fazer parte da equipa terapêutica. Esta mais valia de uma equipa multidisciplinar não inviabiliza que seja claro que o doente tenha um terapeuta que é o profissional que o segue de modo regular.
A problemática do comportamento alimentar só poderá ser abordada se a família também estiver presente, sendo necessário definir caso a caso o modo como esta presença deve ser tida em conta. Assim e sempre que aplicável, o envolvimento da família e das redes de suporte serão garantidos como parte integrante do processo terapêutico.
Dado estarmos perante doenças tratáveis, mas simultaneamente com importante risco de vida, mais relevante se torna a definição de um plano de tratamento específico, pelo que a promoção de tratamentos centrados na pessoa e respetivas necessidades específicas serão a nossa prioridade.
Oferecemos um Plano de Tratamento Individual, definido em internamento ou em ambulatório, com o suporte de uma equipa multidisciplinar, constituída por psiquiatra, psicólogo, enfermeiro, terapeuta ocupacional, nutricionista, médico internista e profissional do serviço social.
Ao seguimento clínico regular associamos:
- Estabilização nutricional: implementação de um plano alimentar individualizado e monitorização rigorosa para reverter complicações clínicas.
- Reeducação alimentar: normalização dos padrões e recuperação de hábitos alimentares saudáveis, prevenindo recaídas.
- Intervenção psicoterapêutica: utilização de modelos cognitivo-comportamentais e de terceira geração (mindfulness e compaixão) para identificar e reestruturar crenças disfuncionais e dos modelos de psicodrama e psicoterapia corporal para adoção de novos papéis relacionais e regulação emocional, promovendo uma imagem corporal mais realista e a reconexão com as sensações físicas.
- Intervenção familiar: envolvimento dos familiares para ajustar dinâmicas relacionais e compreender a perturbação.
- Equipa multidisciplinar: coordenação entre psiquiatria, psicologia, nutrição e enfermagem para um acompanhamento contínuo e adaptado.
- Monitorização: avaliação sistemática dos progressos clínicos e psicológicos.
- Autonomia e reintegração: incentivo ao desenvolvimento de competências pessoais e sociais para a manutenção dos comportamentos adaptativos a longo prazo